Ferrovias para o Brasil

CRÔNICA:  * João Baptista Herkenhoff  –  Recebo carta de um grande amigo que reside há muitos anos na França. O Professor José Maria Luiz Ventura, que acompanha diuturnamente tudo que acontece no Brasil, reflete, nesta sua missiva, sobre a crise aérea que assola o país. 

Estranha José Maria que o problema de aeronaves, aeroportos, controladores de vôo esteja diariamente na mídia. Em contraste com o interesse absorvente e exclusivo sobre esses aspectos da questão, ninguém fala sobre transporte ferroviário. 

Posta-se então o Ventura diante da realidade francesa. Fala sobre o notável TGV – "train à grande vitesse”, trem com grande velocidade – que pode atingir até 578 km por hora. E recapitula algumas cidades francesas e européias servidas pelo TGV: Paris, Lyon, Marselha, Bordeaux, Lille, Rouen, Bruxelas, Londres. E arremata Ventura que as cidades francesas não alcançadas pelo TGV são beneficiadas por outros trens. Ainda observa esse “embaixador do Brasil na Normandia:  “vai-se mais rápido de trem do que de carro ou de ônibus. E é um transporte coletivo muito mais seguro.” 

Curiosamente parece que de fora se enxerga melhor o Brasil do que de dentro. As considerações do brasileiro que está na França merecem atenção. 

Durante o período da ditadura instaurada em 1964 e aprofundada em 1968, entenderam os que comandavam um Brasil sem debate, sem transparência, envolto no manto da censura, que as ferrovias deveriam ser substituídas por rodovias. Uma das razões para esta decisão tinha objetivo político: desmantelar as ferrovias porque os ferroviários eram uma classe trabalhadora historicamente muito bem organizada e causariam problema ao projeto ditatorial. Reverencie-se, a propósito, a memória do capixaba Batistinha, ferroviário, um dos grandes líderes sindicais na época. 

Acabar com as ferrovias, em vez de modernizá-las e ampliá-las, foi um erro histórico que desemboca na crise aérea de hoje. O Brasil, país de dimensão continental, tem vocação ferroviária. Se a construção de ferrovias é cara, a economia de combustível, o baixo custo do transporte sobre trilhos, a segurança e a conseqüente economia de vidas humanas compensa em muito os investimentos. 

Por que, em vez da solução simplista e falsa da construção de um terceiro aeroporto em São Paulo , não se gastam as polpudas verbas, que essa iniciativa vai exigir, na ampliação do leque ferroviário? 

Ainda sobre o tema, para não ficarmos apenas em ferrovias porque a tragédia com o avião da TAM pede investigação profunda:  quais foram os administradores que, pela ação ou omissão, pela incapacidade ou pela corrupção, permitiram que o Aeroporto de Congonhas fosse sufocado pela construção de edifícios, já que esse aeroporto é anterior aos edifícios?

 

João Baptista Herkenhoff:  Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo – professor do Mestrado em Direito, e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.joaobaptista.com

 


REFERÊNCIA BIOGRÁFICA

Redação Prolegis
Redação Prolegishttp://prolegis.com.br
ISSN 1982-386X – Editor Responsável: Prof. Ms. Clovis Brasil Pereira.

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