OPINIÃO –
*Adriana Agruiar Brotti
A Constituição Federal – lei suprema de nosso país – em seu artigo 227, dispõe que “ é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade , o direito à vida, à saúde , à alimentação , à educação , ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
O referido dispositivo deve ser interpretado como um chamamento para a quota de responsabilidade que cada uma dessas instituições tem na formação e desenvolvimento físico, moral, emocional, espiritual e social do ser humano. Estamos diante de uma “parceria educativa” formada pela família, pela sociedade e pelo Estado.
De imediato devemos concentrar todos os nossos esforços no sentido de resgatar a função essencial do núcleo familiar porque é por meio dele que a criança ou adolescente recebem as primeiras lições de suas vidas, o que conseqüentemente irá amoldar sua personalidade e seu comportamento social.
Sabemos que justamente por sua dependência, todo ser humano em desenvolvimento ( criança / adolescente) registra todas as impressões que vivencia em seu ambiente familiar e, ao longo de sua existência, passa a reproduzi-las.
Se foram vivenciadas boas experiências certamente serão reproduzidos comportamentos saudáveis, permitindo o surgimento de novas famílias bem estruturadas, realizadas e felizes. Por outro lado, a experiência inversa pode trazer uma geração de famílias problemáticas, cuja deficiência em sua formação basilar comprometerá seriamente a sociedade como um todo.
Ainda que uma família esteja bem alicerçada quanto aos aspectos morais, intelectuais, emocionais dentre outros, poderá sofrer as conseqüências daquela família que não teve o mesmo histórico. A primeira escola da vida é indiscutivelmente o núcleo familiar e os primeiros professores são os pais.
Tal assertiva deve ser compreendida com muita responsabilidade para que os pais não imaginem que as instituições de ensino devam assumir todo o ônus de ensinar a seus filhos as regras da vida em sociedade.
Como dissemos, dentro da chamada “parceria educativa” cada um deve assumir sua quota de responsabilidade e, no caso das instituições de ensino, tal encargo consiste na boa formação intelectual e cultural de crianças e adolescentes e, por conseqüência, consagra todo o contexto de valores (morais, sociais, religiosos) trazidos de cada lar, de cada núcleo familiar.
Da mesma forma, também o Estado deve promover todas as ações possíveis no sentido de propiciar uma vida mais digna para cada cidadão. Não podemos perder o foco de que os valiosos ensinamentos de solidariedade, de igualdade e respeito às diferenças, da valorização da pessoa e do afeto encontram na família e na sociedade muito mais força que no próprio Estado para sua divulgação e perpetuação.
Se não estamos experimentando aquela sensação de bem-estar diante do panorama atual da sociedade é porque o próprio homem deixou-se envolver pela dinâmica alucinante da vida moderna, rompendo a comunicação com sua própria essência, deixando de reconhecer suas próprias necessidades, fazendo surgir a chamada inversão de valores, trocando-se o “ser” pelo “ter” a qualquer custo.
Considerando que a família é a base da sociedade, na qual hoje prevalece a violência, a falta de ética, de cidadania e o interesse pelos mais diferentes tipos de drogas é sinal que a “família” precisa se transformar. O psiquiatra Içami Tiba, especialista em processos educacionais baseados na Teoria da Integração Relacional (de sua autoria), nos ensina que estar integrado consigo mesmo significa ter saúde física, sentir-se psicologicamente e eticamente bem, capacitar-se para atingir seus objetivos como pai / mãe e ficar receptivo a tudo que possa melhorá-lo ainda mais nessa função.
É indispensável também que se conheça o ecossistema (conhecer todo o contexto que direta ou indiretamente poderá afetar sua família) e, por fim, conhecer bem o próprio filho, o que somente poderá ocorrer por meio da convivência familiar. A educação capaz de promover o bem-estar familiar e social é portanto aquela que nos faz compreender por meio do nosso intelecto e de nossas emoções o verdadeiro significado da dignidade, da liberdade, da igualdade e da justiça.
Para adquirimos essa educação devemos nos conscientizar que estamos vivenciando um momento em que precisamos acreditar no bem, desenvolver bons pensamentos e sermos éticos. Pensar, sentir e agir com ética deve ser o objetivo de cada pessoa para conquistarmos o bem comum: harmonia nos lares e na sociedade. Somos todos educadores em potencial, sempre haverá alguém que se espelha em nossas palavras, em nossas ações, o que deve funcionar como um estímulo para que ofereçamos aos outros sempre o nosso melhor.
Façamos um pacto do bem viver, invocando a proteção de Deus para que possamos acolher e oferecer amor fraternal ao próximo, a começar por aquele que vive conosco sob o mesmo teto. Qualquer ato nosso que cause influência na vida do outro, infalivelmente nos trará alguma conseqüência no futuro.
É tempo de resgatarmos a essência de nossas vidas: dar e receber amor. Sempre.
Referência Biográfica
ADRIANA AGUIAR BROTTI – Advogada; Presidente da Comissão de Direito de Família da 57ª Subsecção da OAB – Guarulhos e Editora Assistente do Prolegis Site Jurídico.