A efervescente mistura entre religião e política sempre trouxe resultados inusitados e danosos. Diante de recente pronunciamento, o atual Chefe do Poder Executivo afirmou que apenas existem três alternativas para tirá-lo da Presidência, a saber: preso, morto ou com vitória. E, ainda pontificou se dirigindo, especificamente, aos canalhas que nunca será preso.
Enfim, esquadrinha-se progressivamente o projeto de golpe de Estado, onde publicamente anuncia que descumprirá novas decisões da Suprema Corte brasileira. Enfim, mais um autocrata invoca por poderes divinos. O bolsonarismo reúne o absolutismo medieval com ditadura militar e, tal mix se revelou nos experimentos de fascistas ibéricos (como foi o de Franco e Salazar).
Não obstante, sua Carta à Nação se redimindo das horas exasperadas do calor cívico recente.
Convém, sublinhar que a atual Constituição Federal estabelece que o país é um Estado laico. Mesmo assim, o bordão prospera: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. E, nesse toada, há uma sucessão de atos simbólicos que concluem que todos são cristãos, mas, somente, Bolsonaro é seu messias.
No arco da promessa se juntam figuras distintas, porém homogêneas em seus objetivos, tais como Silas Malafaia, Edir Macedo, Ernesto Araújo e, até Bertrand de Orleans e Bragança. Muitas democracias sofreram o assalto pelo discurso radical religioso e padeceram drasticamente.
A maior ironia do propagado nacionalismo cristão dos dias contemporâneos se revela porque nem Trump tampouco Bolsonaro representam exemplos de vidas devotas, de abnegação material ou mesmo de comportamento pio.
Somente o valor estratégico leva a instrumentalizar a religião como forma de narrativa totalizante para obter apoio de parcelas numerosas da população.
Em nome de Deus, existiram lideranças reacionárias, marcadas por pautas conservadoras, nutridas por benesses fiscais e de grandes oportunidades de negócios. Como bem nos guia e ensina Guilherme
Casarões, cientista político e professor da FGV da EAESP e coordenador do Observatório da Extrema Direita, nosso nacionalismo cristão guiado pelo profeta autoritário e, travando uma guerra santa contra inimigos imaginários, constitui uma grave ameaça à nossa combalida democracia brasileira.
Não nos deixemos governar pela desesperança, nem na fé da espada e, tampouco, pela força da fé. Afinal, dias melhores virão, das crises somos capazes de construir a resiliência para superação e aperfeiçoamento. A história jamais esqueceu de seus algozes.
Referências
CASARÕES, Guilherme. Quando a cruz vira espada. Seguindo o manual dos autocratas, Bolsonaro apela à radicalização religiosa para dividir o país e corroer ainda mais a democracia. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/quando-cruz-vira-espada/?utm_campaign=a_semana_na_piaui_75&utm_medium=email&utm_source=RD+Station Acesso em 17.9.2021.
Gisele Leite, Professora Universitária há mais de três décadas. Pedagoga. Mestre em Direito UFRJ. Mestre em Filosofia UFF. Doutorado em DIreito USP. Autora de 29 obras jurídicas. Diretora-Presidente da Seccional RJ da Associação Brasileira de Direito Educacional (ABRADE). Consultora IPAE Instituto de Pesquisas e Administração da Educação. Pesquisadora-Chefe do INPJ Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Articulistas dos principais sites e revistas jurídicas, como JURID, LEX, Portal Investidura, COAD, Bonijuris, Revista Prolegis, etc. Ganhadora da Medalha Paulo Freire pela Câmara Municipal de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. |